quinta-feira, junho 21, 2007

Haiku#3

Tudo se perde, pouco se ganha, nada se transforma.

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segunda-feira, junho 18, 2007

Em cunha.

O
O jovem
O jovem quer
O jovem queria
O jovem queria ser
O jovem queria ser maior
O jovem queria ser maior que
O jovem queria ser maior que a
O jovem queria ser maior que a idade
O jovem queria ser maior que a idade que
O jovem queria ser maior que a idade que era
O jovem queria ser maior que a idade que era a
O jovem queria ser maior que a idade que era a sua
O jovem queria ser maior que a idade que era a sua esquecendo
O jovem queria ser maior que a idade que era a sua esquecendo-se.

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domingo, junho 17, 2007

Caminhando de ferro

Uma avó.
Não anda de avião.
E não é porque tenha medo de morrer!
Isso, morre-se de qualquer maneira.
É medo de que lhe dê uma coisa....
É que já andou de barco, oh!
Em alto mar.
E teve medo.
E tem medo...é uma corajosa.
Tem doenças, enfartes, e vai votar.
Aconselha a pequena neta de outrem a não ter medo.
Explica a todo o vagão o que é uma sequela. Lembra-se de tudo desde os seus 4 anos de idade.
Chegamos à 2.ª estação e 4 jovens apolíneos entram.
Carregando nível e modernidade, ele sem dúvida o mais estridente no trajar.
Inquirem, comprovam, respondem uma negativa em coro e eis que toda uma aldeia levanta ferros e parte, desmembrando-se.

Chegaram os príncipes do nada, garbosos zeros.

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Ouviu-se

"Vai este ano fazer-se 10 anos que morreu a Princesa Diana. Os filhos vão-se juntar para comemorar."

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Deprimências

Estremece.
Faz que acorda.
Esmaga o relógio.
Faz que se ergue.
Imagina o armário aberto, o vazio de ideias.
Espia a luz e esta indica humidade para o fim da tarde.
Expira, bufa mesmo.
Lança os braços ao longo do corpo e abandona-os para ali. Não podem ir longe.

Semicerra os olhos, dá ouvidos à voz que todas as manhãs lhe diz "não vás, fica comigo.".
Tem sido assim há 3 anos e 65 dias;
Tenta resistir-lhe, já descobriu que a voz é o engodo de um sonho que quer continuar a andar de triciclo no seu fofo cérebro.
Curioso pondera, como sempre, se não será desta vez que apanha o fim ao sacaninha do sonho.
Prepara-se para semicerrar a metade que falta, aconchegá-la do lado fresco da almofada, do outro lado da cama.
Estremece.
Finge que não readormeceu.
Descobre que afinal não esmagou apropriadamente o seu relógio rezingarrezinga.
Lança arames à cara, fustiga as suas bochechas, bufa bufa.
Ali a sua vida cheira tão bem, porquê afinal não lhe dedicar o devido tributo?
5 minutos.
20...
3 horas depois arregala um olho.
Lança-o em redor e ele regressa para acordar o vizinho.
Aquela luz não é a mesma, o silêncio é diferente, o relógio?

Primeira descarga de vernáculo, violentíssima e sobre si próprio.
Não lhe faz bem a nada mas o exercício é mantido até à beira da banheira, que olha e abandona confiando que só ele reconhecerá o cheiro da sua cama (acabou de perder tempo numa viagem de ida e volta ao wc).
Os olhos já abrem em simultâneo enquanto as mãos teimam em percorrer o corpo atrás de duas impertinentes comichões.
Não sabem o que vêem, não vêem o que querem, nunca viram o que querem, procuram e reviram o que as mãos nem tentam tocar.
Veste cueca, esquece o creme para as assaduras, tira a cueca, mete creme, veste cueca. (ufa!)
Encontra camisa, sacode e veste, aperta, procura calças.
Esquece desodorizante, desaperta camisa antes de apertar calças, esfrega roll-on, aperta a camisa buscando sapatos.
E as meias?
(vão as mesmas que ontem não me esqueci de pôr pó nos sapatos.)
Não encontra onde se apoiar enquanto negoceia com os atacadores, senta-se na cama.
Olha-a, morde os lábios, dedica-lhe os primeiros elogios do mundo, pede-lhe desculpa e insiste no insulto a si, ao seu comportamento de agora, de há 3 horas, de ontem à noite, tarde e manhã, pelo tempo que há tantos anos lança diariamente em lado nenhum, regando coisa nenhuma.
Nesta altura está capaz de ferver leite em si mas atira-se aos cereais e faz voar a tigela até à pequena mesa com vista para a parede. No caminho mata 12 grãos de trigo tufado e provoca 3 derrames lácticos que ainda pondera deixar ficar. (afinal o lava-loiça já parece um parque de sucata e já.)

O casaco?
Está ali, nos bolsos faltam demasiadas coisas que sabe que precisará, procura, acha aquelas que entretanto se foi lembrando. Lança uma mão à pasta e já não tem condições para a higiene oral.

Ordena ao lixo que espere por ele ao fim do dia.
E lança-se nas escadas, cabisbaixo, pondo o pé na rua só após uma última tomada de ar.

corre, corre, corre, ainda assim sendo ultrapassado por pacatos transeuntes. Pára.
Decide que a próxima decisão só poderá ser tomada após o primeiro café.
Bebe-o, elogia a sua franca má qualidade e começa a procurar pelo seu tabaco. Esqueceu-se dos filtros e do isqueiro. Mais tarde encontrará os filtros no fundo da sua pasta e lamentará ter comprado um maço de tabaco, (lume sempre alguém me conseguiria orientar).

Enfim parte, dizendo a si próprio que a página da agenda para o dia terá que ser integralmente cumprida sob pena de ele próprio não valer mais que um rato esmagado no asfalto, menos ainda que um borrachicho caído do ninho.

Depois regressará, esquecer-se-à do ocorrido de manhã e tornará a ser terreno solto face à irresistível sedução da disposição da sua poltrona. A poeira acumular-se-à, o cotão emigrará pelas quatro partidas da casa e o seu estômago, não tarda, exigirá em vão a primeira refeição decente do dia.

A agenda não foi cumprida.
Um sorriso desenha-se na sua face e deste emerge um balão onde se lê: "Estou a ser bem sucedido na minha tentativa de suicídio por omissão, o que é um paradoxo, um feito defeito."

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