domingo, julho 06, 2008

Branco

Branco é qualquer coisa o põe assim.

As coordenadas que fixam a circunstância do meu encontro com ele não são desconhecidas de ninguém.
Não têm sequer nada de suficientemente impressivo para lá dos confins de mais uma existência, não tem mesmo ponta que justifique a sua descrição.
Todos sabemos ou ameaçamos saber a que sabe estarmos ao nível de um mar azul e bravio, espumante, numa praia de arriba e areia dourada até ali. Quanto a este ponto não vale a pena insistir.

Confrontado com a existência de um corpo (que por uma outra vez é o meu),
de novo entregue ao exercitar da predestinação de mim mesmo na decifra das linhas de um pé, de um tornozelo, de uma surpreendente linearidade de uma coxa...
Enfim, não é mesmo empresa nova e não me deu resposta alguma que mereça ser recordada.

Mas entregue a esta cartografia do membro topei-o!
Lá estava ele, em silêncio, desde quando ali, mesmo nas barbas do meu joelho esquerdo?
Como foste aí parar, companheiro?
Eu não te vi nascer mas a partir de agora não te posso mais negar...
Tu és muito mais expressivo que os teus primos das têmporas, ó se o és!

O meu primeiro pêlo branco!
(que faça? arranco-o? chego-lhe o isqueiro, torturo-o, quebro-o ou decido que afinal é apenas mais um louro...contemporizo?)

Lá está ele, esticadinho e levantado como um espinho na minha canela!

Agora é só morder a beiça, resistir à tentação de esquadrinhar revoluções edição de bolso e respirar fundo. Preparar muito bem o momento que sempre lhe sucederá: o segundo pêlo branco.

Agora, vou concerteza olhar para a mata púbica como o faço ao soalho de minha casa buscando pequenos rastejantes.
(varro o soalho de um lado ao outro e depressa, procuro-os ansiosamente desejando nunca os encontrar.)




Para que se saiba, não o arranquei, torci ou tingi. Deixei-o viver.

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