domingo, agosto 24, 2008

Disse-me o meu guarda livros

"E eis que a visita 2.000 foi um ar que se lhe deu, hã Sotour!"

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terça-feira, agosto 19, 2008

A Polly era uma bolacha

Se a Polly era uma bolacha, Osvaldo era um biscoito, Sebastião um nougat e Hermenegildo um torrão de alicante.
Albertina seria sempre um crouton.
Sim, e Isabel um petardo dos céus e Carlos um scone, definitivamente!
Lopes uma miserável barra de cereais armada em chocolate.
Maurício, Pedro, Ágata, Sílvia e Ricardo são todos miniaturas que jazem no pires de chá da Tia Hermengarda.
O pequeno Xavier é um verdadeiro monstro das bolachas. À sua conta já foram arranhadas por mais de 329 vezes Martinha, Mónica, Aninhas, Lurdes, Magui, Sebastiana, Filipa, Maria João, Bela, Mariana, Tânia e Gui (todas primas).
James é um Waffer, sempre distraído.
Daniel queria ser um licor mas acabou como monitor de uma escola de tremoços.
Catarina afogou-se num galão quente quando ainda nem sequer tinha levado uma dentada.
Depois existem os primos Torrada, gente mais dura e sem sal que ainda pouco se banhou na escola da urbanidade.
Todos se encontram uma vez na vida: no bucho do Pardal que, dotado de maior rapidez, se antecipou no debicar às lazarentas pombas.

Se Gaspar era um Pardal...

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Entre a Terra e o Céu

Vivo entre a Terra e o Céu.
Diariamente pêndulo entre ambos, entretido tentando manter a lucidez de saber em que ponto da fronteira me encontro a cada momento.
Todos os dias desço ainda cansado as escadinhas que vão dar à Terra.
Nela me revolvo, rebolo e sacudo. E eis que me encontro entre iguais!
Aí sou capaz de quase tudo. Junto de Vós.
Corro lado a lado com Comboios que chocam enfurecidos em Metropolitanos de brincar.
Sou safanado e sacaneado, sou observado como espectro que sorri sem tostão.
Lanço-vos braços polvilhados em simpatia.
Desejo. Morro, regresso para tornar a partir em pulinhos de palmilha.
E todos os dias torno a subir a escadaria do amor próprio, concedendo-me então um duche desilusório e uma refeição equilibrada, meia lua de rúcula.
Aqui, já estou no Céu, espaço desabitado e frio onde em caixinhas vou empilhando os resultados pífios de mais uma ida à Terra.
Lá ao fundo fica a ala do respeito pelo princípio da igualdade e logo adiante o respeito pela unicidade. Aqui mais perto ficam os artefactos, já lavados, que me indicam as V. coordenadas na Terra, e naquele monte enorme estão aqueles que - antes e depois do tratamento - se mantêm, por qualquer rasura que se me escapa, ininteligíveis à luz deste Céu.
Tudo arquivado, catalogado e cognoscível em percursos que segundo as últimas estimativas levariam aproximadamente 29 anos a repercorrer.
À entrada mantenho uma chapinha com a divisa que encontrei entre as ervinhas de um jardim: “Amor próprio e uma cabana, segundo S. Daniel”.
Entre amigos sou o Marfim. E estou farto!
Um dias destes, e este é embalo que me tem incomodado a deita, não regresso aqui. Fico por lá.
Mas logo depois me recordo em corridinha do que quero: criar uma Terra no Céu.
Mastigo a satisfação da descoberta, aconchego-me à nuvem que me cobre e decido que amanhã tornarei a descer à Terra com redobrado empenho.Nisso ou em nela me perder, esquecendo a necessidade, os arquivos, o desmanche e a inútil lucidez deste Céu frio, desabitado, impartilhável.

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quinta-feira, agosto 14, 2008

How do you do, Sir?

Vives como
seriamente na boa?
broadinho de todo? ganda maluco da cabeça?
nem sabes! ao calhas?
ao acaso? de propósito?
ãh? ãh?
quem pergunta? acordo/deito/acordo?
não dormes? a sério? Aiópã! com a tua mãe? xiiiii, só?
às 3.ªs, 5.ªs e Sábados? àbrir?
segundo um plano que te levará a ser igual a mim? Para quê?
do ar? do Mar? do Bar?
de umas cenas que tenho ali? Onde? no quintal, na marquise, num apartamento alugado nas avenidas novas? Quanto à hora? fazes grupes?
de nariz no chão? olhos nas estrelas? de pé ou de 4?
Fazes o quê? Gostas de ? vive-se disso?
Aposto que tens namorada? de propriedades?
no café? de um lado para o outro? porque sim?
de boca-a-boca? ou de porta-a-porta? nunca regressando?
Ó, de um trato que um dia pregaste a um industrial da região?
e isso? ainda dá?
à espera? de quê?
pé ligeiro e olho vivo? ou os outros que se danem?
diluído na decretada igualdade? não me digas?
do bruto elogio e do fino insulto?
bem ou mal?
eu ou tu?
eu ou tu?

(Corta, já chega!...martela aí um questionário e liberta-o nas ruas se o teu objectivo é estatístico. Se é conversa liberta-te a ti no mato, madiê.....sai da ilharga, dá aos calcantes mô! Dá o xô ò baza!)

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quarta-feira, agosto 13, 2008

Razões para não escrever

2 - A Preguiça

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segunda-feira, agosto 11, 2008

Razões para não escrever

1- Ver, ou saber que alguém viu, escrito num panfleto turístico uma frase a si imputada celebrando determinada cidade ou paisagem. O horror de saber que aquela frase era um pedregulho, um traque com letras, um dislate ou uma parvoíce micro-sentido. Pior: saber que aquela frase aconteceu num momento de frenesim bacanal ou que deveria ter ficado nos ouvidos de quem a ouviu. Ainda pior: saber que não fomos nós quem a disse primeiro. Um alívio: Não fazermos a mínima ideia de a ter engendrado ou sequer dito, saber que não passa de um embuste, de um engano ou de um rumor, no limite, de uma perfeita mentira.

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terça-feira, agosto 05, 2008

Vocês irritam-me!

Eu não vos quero deixar em paz, ou por outra, não vos quero abandonar num vazio a que eu próprio chame lassidão para que melhor suporte as horas em que não estou dormindo.

Mas por vós a história seria outra: raspemo-nos enquanto ele se encontra distraído num copo, escapulemo-nos agora que ele se encontra absorto procurando ver para lá de quatro paredes. Vós sois umas putéfias a que não quero resistir...

Isso, brincai com a vossa mirabolante elasticidade de quem tudo diz para logo a uma segunda leitura se fecharem em copas de palavrinhas vulgares. Simulai que são ocas para assim menoscaberem de quem vos profere para logo de seguida irem inchar numa outra boca qualquer.

É isto um jogo, é?
Enquanto não vos abraçar de vez continuarão nesse joguinho de "ih ih ih"? Vocês parecem uma mulher não se desse o caso de utilizarem o arsenal de todas elas.
Parece que sim, que querem a minha fome, o meu ridículo, a minha exposição esvaziante, mas o que me garante que após tudo isso vocês continuarão a meu lado, hmm? "Quem arrisca não petisca, ah ah ah!". Biltres!

Arrasto-me à vossa procura, procurando segurar-vos a um sentido que valha e vocês insistem em dizer-me "já dito", "já pensado", "já vivido". Farto!

Um dia, um dia que durará por muitas luas, hei-de vos arrancar à terra e pregar a um muro caiado duma ficção que nem vocês imaginavam possível, hei-de vos apanhar distraídas e deixar sem pinga de tinta, roxas como ameixas amarelas!

Depois, e apenas quando eu o ordenar, soltar-se-ão do escárnio das miopias públicas e será a minha vez de apreciar a vossa aproximação para um chá dedicado a servir no meu pátio, vocês entrarão plácidas e sairão em paz, mansas muito mansas, suspensas no sorriso que vos dirijo.

Oxalá!

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