domingo, março 18, 2007

Um testemunho de globalização

A respeito de Halliburton (a.k.a. Alli Burton):

A minha ideia de globalização não é nova. Será mesmo muito velha.
É precisamente a mesma de quem ouvia boatos e mitos, a respeito de povos distantes no tempo ou no espaço, com os pés pisando estrume. A mesma que motivava aquele que avançava sempre em primeiro lugar quando o inimigo se abeirava sem ter que levantar alto o malho.
Ler, ou ouvir ler, os primeiros relatos. Falar com os retornados e experientes peregrinadores dando ouvidos a Santa Sé, a casados e estrangeiros.
Tudo isto é feito do mesmo que robusteceu o desejo de estender cabos subamarinos por aí, telefones e o instantâneo sem fios, ainda sem olhos. Depois a Tv.
E agora é este prazer estapafúrdio de daqui estar lendo coisas daí, em me entreter pensando a 2, 3 meses, 4, 5 anos, 6 gerações de distância. Projectando não já o que se sucederá aí, mas aqui.
E fazer isto com todos.
Indivíduos e mais indivíduos. Não já massas inanes, pavorosas!
Daí que estranhe, como estranho, a forma como os meios de informação mais modernaços se vendem a si próprios, difundindo a sua puxadela de galões ganhos à custa de muita sageza, a necessária para, por exemplo, quase transmitir um tsunami (maremoto, "marmoto", mar morto, "maroto".) ou surpreender mais um episódio da justiça de Fafe.
Virem a correr, esbaforidos, dizendo-nos que há tiroteio na Pérsia e que e a Rússia dialoga "in a tu cá tu lá basis"com a Sr.ª D.ª Europa, o que aliás é também prerrogativa dos chins nos contactos africanos, esses mesmos chins que em poucas semanas, entretidos na prática do tiro-ao-espaço, viveram o drama de um Crash na bolsa de Xangai e estremeceram de alegria com a "descoberta". Houve quem ousasse pensar em a anunciar dizendo "pela primeira vez na China", corrigindo-se depois, "a República Popular da China", acabando a mencionar uns adágios de Deng Xiaoping, para finalmente a anunciar, à descoberta, essa obra perfeita e pura da civilização ocidental: a propriedade privada.

Eu sinceramente agradeço os factos, mas não tomem por desconsideração a minha repudia pelas vossas interpretações. É que sabem, eu nem sempre tenho pachorra para me distrair desmontando as vossas condicionantes e circunstâncias, quase todas elas plenamente humanas, de modo a que caibam e se integrem na mensagem que veiculam enquanto eu estou para ali a afinar a antena.

Era só um desabafo. Num país como este gostamos sempre de uma boa cusquice, de ver peremptoriamente comprovadas as nossas opiniões comuns sobre temas de que não compreendemos assim tão tanto.
Neste carrossel, a hipótese de sabermos quando parar, fazendo-o saindo num sítio com um número considerável de pessoas que já havíamos reconhecido antes, continuando ténue e incerta, é que começa a ser um thrill.

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