segunda-feira, abril 30, 2007

Dando uma de Steve Zissou

Atacar pensamentos históricos e seus autores não pode caber a qualquer outra especialidade que não a da defesa anti-aérea. Admiro muito aqueles rapazes que passam noites especados a olhar o negrume do céu, ouvindo o rolar de motores e atirando freneticamente peças flamejantes, explosivas, que não consta serem imunes à lei da gravidade.
Aos que acertam cabe uma honra bem mais mitónoma do que àqueles que escangalham um tanque a céu aberto e à granada.

Bom, e visto que isto , isto e também isto acabou por-se acumular aqui a um canto, vamos a reconhecê-lo atendendo a um exemplo que aqui vos deixo, através do qual possamos ilustrar, se bem que muito prosaicamente, o que estaria na mira do contendor mais aguerrido.

"VIOLINO NO METRO

Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do mundo, tocou incógnito, durante 45 minutos, numa estação de metro de Washington, em hora de ponta, despertando pouca ou nenhuma atenção. Ninguém reparou que tocava com um Stradivarius de 1713, que vale qualquer coisa como 3 milhões de euros.
A excepção foram as crianças que queriam parar para o escutar, algo que indicará que todos nascemos com poesia e que esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós. Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares. O director da Galeria Nacional de Arte, não se surpreende: "A arte tem de estar em contexto. Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará". Para outros, a experiência indica a "perda da capacidade de se apreciar a beleza". Ou "isto não significa que as pessoas não tenham a capacidade de compreender a beleza, mas sim que ela deixou de ser relevante"."
in Mudar de Vida, jornal popular, 25 de Abril de 2007, n.º0, pg.10, no cantinho inferior direito.