domingo, fevereiro 17, 2008

Elabore, num máximo de 25 linhas, uma pequena composição em que descreva as suas férias neste belo verão de 2007.

Quando o meu bairro ficou tão sem pessoas que a única que restava e que comigo brincava era o Chico Agulhas, um sobrevivente da heroína, a minha mãe e o meu pai surpreenderam-nos com a decisão de irmos de férias.

O meu irmão mais velho perguntou logo para onde. A minha irmã estrebuchou que não queria ir pois o seu mais recente namorado iria passar a primeira quinzena na oficina de seu pai fazendo as vezes de 2 mecânicos e um tontinho cuja função é mesmo essa.

Eu calei-me à cautela. Desde a chegada do boletim escolar que a dose diária de bofetadas andava mais branda.

O plano de férias era o seguinte: Rumar à Caparica para ver a tia Gertrudes que há 20 anos veraneia no campismo local, mesmo durante o inverno; Rumar ao Algarve onde uma amiga recente de meu pai tem um pequeno apartamento.

Eu estalava de emoção. Ia sair do meu bairro, ia ver o mundo!

Durante 2 dias foi um rodopio lá em casa, decidir toilettes, o que levar na mala acanhada do carro, onde abandonar o Blacky e onde parar no caminho para cravar almoços grátis.

O meu irmão insistiu em levar a bicicleta e eu a consola. Acabamos por levar o grelhador com rodas e o conjunto de mesa e 4 cadeiras plásticas que meu pai havia comprado há 2 anos no hipermercado da cidade.

A viagem foi um fartote! O meu pai berrava com todos os carros que o ultrapassavam e a minha mãe connosco que lhe respondíamos na mesma moeda. Foi uma animação pegada até que o Corsa começou a soluçar e a deitar fumo. Daí para diante meu pai calou-se, minha mãe berrou-lhe uns “eu bem te disse” com 20 anos de idade e eu e os meus irmãos podemos ficar na risota mandando bufas na cara uns dos outros apesar da casa que trazíamos ao colo.

Com tanto incidente não conseguimos comer nada além de umas sandes preparadas no capot à porta de um Lidl.

No camping da Caparica, eu e o meu irmão ficamos a dormir no carro, aproveitando para ouvir os CD`s picantes do pai até que o autorádio subitamente morreu.

No dia seguinte eu e o meu irmão não fomos à praia. Foi o nosso castigo e foi uma pena pois a minha irmã contou-nos que a praia era giríssima, cheia de gente giríssima e o mar, oh!, giríssimo e quase não havia areia. Eu e o mano passamos o dia a jogar à bola com uns miúdos de boné e cães que espumavam da boca. Demos-lhes uma abada à Benfica!

E daqui estrada fora para Armação onde nos esperava um prédio igual ao nosso! Num bairro igual ao nosso! Um apartamento pequeno que com o que trazíamos ficou tão cheio quanto a nossa sala, era impossível ter saudades, iam mesmo ser uma férias à grande!

O meu pai finalmente pareceu descontraído após a 8.ª mini e alguns pires de caracóis que devorava sempre a resmungar a respeito da relação preço/quantidade. Afagou-me o cabelo e mandou-me para casa ver o que minha mãe estaria a fazer. Nunca antes tinha ouvido o meu pai a dizer “puta” com tanta gana.

Ao terceiro dia em Armação já tinha um amigo, o Pedro, e uma amiga, a Carina.

A Carina era bonita e gostava muito de gelados, tratava-me por seu namorado. Descobri que o meu amigo Pedro lhe surripiava uns beijinhos atrás do barracame e até lhe passava os dedos pelas sete partidas do corpo enquanto eu abdicava do meu gelado predilecto para que pudesse ofertar à Carina os Calipos de limão que ela tanto gostava.

O meu irmão desapareceu durante uns dias aparecendo com uma orelha furada, uma coisa a cair-lhe do cabelo e um guizo na sandália esquerda. Disse-me que se tinha encontrado com a sua essência e que ponderava fugir para a Lousã em Setembro.

A minha mãe não desapareceu da cozinha durante todas as férias enquanto o meu pai não desapareceu daquele café, que fora ficar a meio caminho da praia era igualzinho a um outro que há lá no nosso bairro.

A minha irmã era quem me levava para a praia sempre muito preocupada com as minhas capacidades auditivas, de fala e memória. “Tu não viste nada, ouviste? Se abres a boca e dizes ao pai que eu desapareci durante 2 horas com o Alcides eu não te trago mais à praia!”.

De facto, o pai não iria gostar de saber que a mana andava na companhia de um negro latagão enquanto ele manobrava freneticamente o seu bigode à vista das bifas que passavam junto ao estrado do café.

Até ao fim foram umas férias de arromba! Mesmo contando com o facto de a amiga do meu pai ter aparecido e conhecido a minha mãe de avental, o meu pai ter tido uma crise de fígado provocada por tremoços estagnados e a minha irmã ter aparecido uma noite sovadinha de todo gritando que não voltaria connosco.

Estas foram as minhas férias. Agora, Sr.ª Professora, que já sabe como reza a máxima do recreio, “Pastilhas? Só se trouxeres para todos”, faça o favor de ler em voz alta um relato tão sincero como o meu de como foram as suas férias de Verão. Em todo o caso, sabe que pode contar com as gargalhadas do menino Fernando A., seja lá o que diga.

Escrito com a emoção de vir a ser publicado, este texto nunca chegou sequer à boca do e-mail.

1 Comments:

Blogger franksy! said...

CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP!!!

Adorei, Daniel! Diverti-me imenso!
Está mesmo fantástico! Quero mais destas!!!

Parabéns!

21/2/08 13:00  

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